Uma reflexão sobre Livros

Depois que os livros se revelaram para mim, sempre sonhei em ter uma biblioteca. Mas pensava nisso como uma coisa para quando eu tivesse minha própria casa e um cantinho só deles. Contudo, comecei a perceber que uma estante no quarto não era nada mal enquanto o arranjo de morar sozinha não vinha. 

Muitos anos se passaram e desde então, a compra compulsiva de livros me fez comprar muita coisa. Hoje entendo que minha ideia era juntar todos os livros do mundo. Não importava muito se eu gostava, se queria mesmo ler; tinha que ter todos, novos velhos, inteiros ou caindo aos pedaços. E além disso, todas as edições e em todas as línguas. Talvez fosse uma forma de correr atrás do prejuízo de não ler desde criança. Obviamente não existe muita lógica nesse comportamento, mas não me dei conta disso por tantos anos. 

Às vezes coisas pequenas podem causar reflexões gigantes dentro de nós. Para mim foi um tópico num grupo do facebook que perguntava "O que é mais importante para você, o texto ou a presença física do livro?". Esse texto falava sobre a ideia que temos de que o livro físico vale mais que o digital. Talvez não tenhamos parado para analisar, mas temos aquela ideia de que o livro físico vale mais do que o digital e, sendo assim, não estamos considerando o trabalho do autor e sim o da gráfica. Falava também sobre o quanto investir em livros digitais podia desentulhar nossa vida e, finalmente, sobre as tantas pessoas que tem montanhas de livros que nunca saem da prateleira para serem lidos.

Como disse, isso me causou uma grande reflexão. Parei para analisar que, eu só precisava ter os livros que eu realmente gostava, não havia o menor sentido comprar livros que eu não tinha intenção de ler, só para tê-los na estante. Me senti envergonhada. Naquele momento também percebi também que, a importância dos livros, está muito além da presença física deles. O texto, as palavras, tem sua própria força. E hoje em dia, eles não precisam mais estar acomodados na nossa estante. Para algumas pessoas, como eu, eles podem estar simplesmente armazenados no nosso leitor digital mesmo. 

O princípio do minimalismo*, de não ter mais coisas do que você precisa, vale nesse contexto. Me livrar de coisas que ocupam espaço e sobrecarregam minha vida, me causa grande satisfação. Ver o espaço livre, a facilidade com que as coisas ficam mais arrumadas, me traz uma felicidade imensa. Já tinha descoberto isso com outras coisas, como roupas e calçados, mas descobri que poderia passar meus livros por essa peneira também. E foi assim passei a me desfazer de vários volumes. Qualquer leitor que se prese sofre ao pensar em se desfazer de seus livros, mas garanto que foi libertador. 

É obvio que o que é necessário ou básico é diferente para cada um e, falar sobre desapego de livro com apaixonados por livros é complicado. Mas não proponho aqui que você troque todos seus livros físicos por digitais, afinal, nem a minha estante ficou vazia. Sugiro apenas uma reflexão sobre o é realmente importante para você. Você realmente tem que comprar tanto? Você realmente prefere livros físicos? Será que um leitor digital não vai simplificar minha relação com a leitura? Você realmente está lendo todos os livros que compra? Não se sinto obrigado a ostentar uma estante bonita com livros que você nem consegue dar conta de ler só para mostrar que é bom leitor. Você não precisa provar nada para ninguém.  

Todas essas coisas parecem coisas óbvia de se dizer, mas eu mesma não tinha pensado sobre isso antes. E, como isso fez uma mudança que considero positiva em mim, espero que possa fazer por você também.

* O minimalismo é uma corrente artística que só utiliza elementos mínimos e básicos. Por extensão, na linguagem corrente, associa-se o minimalismo a tudo aquilo que tenha sido reduzido ao essencial e que não apresente nenhum elemento sobrante o acessório. Fonte: https://conceito.de/minimalismo

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