PDM - Stephen Wallenfels

Imagine um dia comum. Pessoas na rua, cuidando de suas vidas. Ou, ainda em casa, dormindo tranquilas. De repente, um som ensurdecedor á ponto de congelar seus pensamentos irrompe do nada, enquanto esferas gigantescas, além da imaginação, cinzentas e metálicas (?) começam a flutuar nos céus, sinalizando uma manifestação extra-terrestre em nível global.


Uma invasão perfeita e violenta, incluindo raios letais desintegrando seres humanos em segundos. Eletricidade, telefone, tv, rádio, internet cortados, baterias e pilhas inutilizadas. Encurralados nos abrigos que porventura tenham encontrado, os "sortudos" sobreviventes da onda genocida passam a enfrentar o medo do desconhecido e do extermínio, a falta de notícias de parentes e amigos, o confinamento e a crescente escassez de comida e água.  À medida que o tempo passa, a insustentabilidade da situação começa a trazer à tona outra ameaça: o egoísmo e a selvageria humanas mostrando suas caras feias por baixo do verniz ralo da civilização - o que explica o subtítulo "Sobreviver a um cerco alienígena é um feito,  Sobreviver à humanidade é outra história"

E é à partir desse ponto que o livro brilha ainda mais. Como toda boa ficção cientítica, a obra de estréia de Stephen Wallenfels (POD no original) disserta sobre os nossos tempos, a raça humana e o que a compõe, de feio e de belo.  Atos de violência, opressão, ganância e covardia - mesmo num momento limite como esse. E atos de coragem, ternura, confiança e solidariedade - mesmo num momento limite como esse. Em certas partes, o livro lembra bastante "O Ensaio para a Cegueira", de José Saramago.

A narrativa se alterna entre o ponto de vista de dois adolescentes: Josh de 15 anos, confinado em casa com seu pai, e Megs de 12 anos, presa em um estacionamento, à espera da mãe, que logo voltaria.
O ritmo do texto é tenso, econômico, irônico e apesar do tema pesado, nunca resvala para o dramalhão, tampouco foge da emoção.
Os personagens são ótimos, desde os secundários, como o pai de Josh, a mãe de Megs e  tia Janet,  até os protagonistas. Josh e Megs, às vezes, são chatos e teimosos como todo adolescente; Mas também honestos, vulneráveis e valentes a maior parte do tempo (especialmente Megs, escolha totalmente pessoal, os dois são muito legais) e tentam preservar suas ingênuas integridades apesar do colapso geral.

Outra qualidade do livro é que não se esforça para dar respostas, não se tem ideia de quem são ou o que querem os invasores, nem o motivo de seus atos hostis.Permanecemos tão no escuro como os personagens - pelo menos, por enquanto, já que o segundo livro já está para sair nos EUA (mal posso esperar!), com o título de "Monolith".

O final reforça a imensa fragilidade humana frente ao desespero, mas também ressalta a capacidade das pessoas de forjarem generosidade e abnegação quando menos se espera, mesmo que de forma absurda ou extrema.





Um comentário:

  1. me lembrou "ensaio sobre a cegueira" realmente. Fiquei com medo de ler, apesar de parecer muito interessante.

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