Azul é a cor mais quente - Julie Maroh

Clementine é uma jovem de 15 anos que descobre o amor ao conhecer Emma, uma garota de cabelos azuis. Através de textos do diário de Clementine, o leitor acompanha o primeiro encontro das duas e caminha entre as descobertas, tristezas e maravilhas que essa relação pode trazer. Em tempos de luta por direitos e de novas questões políticas, "Azul é a Cor Mais Quente" surge para mostrar o lado poético e universal do amor, sem apontar regras ou gêneros. 

Devo suspeitar que essa graphic novel ficou famosa fora da França depois que sua adaptação cinematográfica (de mesmo nome no Brasil), dirigida por Abdellatif Kechiche, ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes do ano passado – a maior premiação do evento – e algumas ~polêmicas~. Em seu país de origem, a HQ foi lançada em 2010, colecionando versões traduzidas para vários idiomas e o Prêmio de Público do Festival Internacional de Angoulême.

Mas, acho importante dizer, as duas obras são bem diferentes entre si (caso você, caro leitor do blog, decida consumir as duas), principalmente nos desfechos. E ainda bem! Enquanto o filme possui uma pegada bem mais realista sobre relacionamentos e retrata a história de Adèle (Clementine, na HQ) e Emma de forma bem menos politizada e sem focar em orientações sexuais, Julie Maroh explora as descobertas amorosas de Clementine com conflitos em relação aos medos e moralismos sociais. Há quem prefira um, há quem prefira o outro. Eu, particularmente, sou apaixonada pelo filme, mas li a graphic novel duas vezes e chorei nas duas, porque sou dessas.


Clementine é uma adolescente comum, com uma vida comum, mas sabe que algo está errado. Ao contrário das amigas, que entre um intervalo e outro das aulas suspiram pelos garotos, ela sente apenas indiferença. Mas, ao cruzar com uma menina de cabelos azuis na rua, seu mundo ganha novos sentidos e novas cores – literalmente. É aí que entra o trabalho de paletas de Maroh, que retrata o cotidiano sem graça de Clementine em tons de cinza (cinquenta? Risos) e insere o azul a partir dessa cena, indicando um divisor de águas em sua vida.


A partir de então, Azul é a cor mais quente nos faz acompanhar as inseguranças de Clementine sobre identidade e preconceito, enquanto constrói o passo-a-passo de um relacionamento bonito, com seus altos e baixos como qualquer outro, ao longo de vários anos. A questão da sexualidade, além de retratada como desejo e parte do ser humano, também ganha seu significado político em algumas cenas, refletindo a militância da autora pelos direitos dos homossexuais.

O melodrama um pouco carregado perto do final é compensando pelo traço bonito e elegante de Julie Maroh, combinado com aquarela, e pela mensagem universal que o amor, no fim das contas, é poder pertencer a alguém e estar livre ao mesmo tempo.
"Só o amor pode salvar o mundo. Por que eu teria vergonha de amar?"

Skoob

2 comentários:

  1. Fiquei achando que chega a ser poético. Preciso ler essa HQ! Gosto do filme, mas acho que vou gostar mais dessa versão.

    Esse efeito do mundo em cinza e tomar cor a partir do azul eu já vi no filme "alma de poeta, olhos de Sinatra". o filme é besta, mas o efeito é legal.

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  2. Também acho que você vai gostar mais, Cris rs. Digamos que o romance é mais 'trabalhado' :)

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