Cinquenta Tons de Cinza - E. L. James


Quando Anastasia Steele entrevista o jovem empresário Christian Grey, descobre nele um homem atraente, brilhante e profundamente dominador. Ingênua e inocente, Ana se surpreende ao perceber que, a despeito da enigmática reserva de Grey, está desesperadamente atraída por ele. Incapaz de resistir à beleza discreta, à timidez e ao espírito independente de Ana, Grey admite que também a deseja, mas em seus próprios termos.


Quando as pessoas descobrem que gosto de ler, imaginam que estou por dentro das novidades e dos Best Sellers do momento e, sendo assim, sempre vem comentar comigo sobre esse livro em particular com grande empolgação. Eu ficava olhando para a pessoa surpresa, pois já sabia que o livro não tratava de um assunto de meu interesse, mas parece que o título vem chamando muito a atenção das pessoas. Então resolvi ler porque precisava conhecer para ter uma opinião formada sobre ele. Não acho justo criticar uma obra só pela descrição e pela indicação de terceiros - mesmo que estes conheçam meu gosto e opinião.

Levando em consideração que já tinha uma impressão negativa desse livro quando comecei a leitura, foi um milagre ter conseguido chegar ao final. Precisei de muita força de vontade para continuar. E não vou negar que cada segundo foi torturante. Mas ao contrário do que vocês podem pensar, não estou me referindo a pratica sexual ser pesada demais. Pelo contrário, em se tratando de BDSM, esperava encontrar coisas muito mais intensas no livro, que na verdade não passou de uma fanfic com cenas de sexo até bem comuns a esse mundo.

Das várias coisas que me irritam nesse livro, uma delas é o barulho que as pessoas fazem em torno dessa história. Pensar que foi lançada primeiramente como uma fanfic de Twilight, acabou sendo publicada, virou  Best Seller e fenômeno mundial, quando ela no máximo podia chegar ao nível de romances de banca, me faz pensar que o mundo está realmente perdido.

Não pensem que estou julgando o livro por ter sido escrito como fanfic. Para ser sincera, conheço romances de banca com histórias bem melhores do que essa e conheço fanfic's e autoras maravilhosas que não chegam a fazer sucesso. O fato é que a história não merece realmente toda essa fama.

Para falar das personagens, vamos começar com Anastasia Steele (Ana), a protagonista. Vocês conseguem pensar em uma pessoa na casa dos vinte anos, universitária, que seja contra tecnologia e que, além de virgem, é completamente desinformada quanto a sexo? Garanto que não, pois essa personagem não só não é interessante, como não é crível.

Ela tem pensamentos incrivelmente infantis, desacredita de coisas banais e bobas,  fica corada com facilidade, é confusa e inocente demais. E tem ainda o detalhe dela falar o tempo todo de seu inconsciente e de sua “Deusa interior”, que provavelmente deve ser uma piadinha interna do fandom original, pois ela é lançada sem maiores explicações sobre o que isso deveria ser ou significar para as pessoas do mundo normal.

E então, temos Christian Grey. Ele é rico, bonito, misterioso, com um passado sombrio e tem fetiches assustadores para alguém tão inexperiente. Mas também é maníaco por controle, manipulador, ciumento, machista, possessivo, abusivo, perseguidor e por algum motivo, muitas pessoas ao redor do mundo parecem ignorar tudo isso e achar que ele é o príncipe encantado que toda mulher procura.

Acho que, na tentativa de construir um personagem que fosse atormentado e polêmico, mas ao mesmo tempo encantador o suficiente para que valesse a pena lutar por ele, a autora só conseguiu ao invés disso, criar um monstro.

Quero deixar claro que não tenho nada contra a prática BDSM. Não só respeito como defendo que, cada um tem o direito de fazer o que melhor lhe convier, inclusive na vida sexual, desde que ninguém saia prejudicado. Pelo que sei, a prática tem regras rígidas sobre segurança e consentimento e o principal é que uma das partes deve querer ser dominante a outra deve querer ser submissa. O grande problema é que,  no caso dessa história em particular, isso não acontece. Podemos perceber dominação e submissão nas personalidades. Vemos também o desejo de dominação, mas e quanto ao desejo em ser submissa? Nunca.

E nisso chegamos ao que mais me incomoda no livro, os valores. O livro é machista em um nível sem cabimento. São exemplos e mais exemplos, onde Ana se policia sobre o que vai fazer, o que vai dizer, com quem vai sair, se preocupando sempre com a reação dele, com a mudança de humor dele e que isso pode significar punição para ela.  E não me refiro ao fato de ser dominação homem sobre mulher. Se fosse o oposto, eu também não gostaria.

Desde o início se percebe claramente um caso de abuso. Ana é uma pessoa psicologicamente frágil, com baixa auto-estima e inexperiente. Christian acaba por perceber isso e se aproxima de dela exatamente para se aproveitar dessas características.  O homem é manipulador, oportunista e possessivo e Ana, ao se apaixonar por ele, cede. Não por achar excitante a experiência, mas por achar que vai perdê-lo. Ele deixa claro desde o início que essa é a única maneira de ficarem juntos e Ana acaba por se submeter à condição.

Para citar um exemplo, em determinado momento, Christian fica sabendo de uma viagem que Ana quer fazer e reage demonstrando ciúmes e chega a castigá-la. Depois, Ana se afasta da cidade para pensar melhor e o Sr. Grey, sendo absurdamente perseguidor, vai atrás dela alegando que sentiu saudades. No livro, isso deveria significar que ele não consegue ficar longe dela, mas na verdade só mostra que o espaço que ela pediu não foi respeitado.

Além disso, a submissão não termina na cama. Ela não pode revirar os olhos, não pode morder o lábio, o que ela geralmente faz sem perceber. Acredito que a intenção fosse mostrar que ele fica completamente louco por ela. Mas essa reação exagerada dele só consegue demonstrar é que ele é um tarado totalmente descontrolado. Isso não é bonito, nem é sexy e muito menos romântico.

Tudo retratado nesse livro só reforça uma relação nada saudável. Um homem instável e uma mulher que se submete aos caprichos dele pensando que pode mudá-lo na base da insistência. Além do mais, ele não admite que ela o toque ou que saiba detalhes sobre o passado dele. Em várias passagens a própria personagem deixa claro que só faz a vontade dele, mas que não gosta da prática.

Nem vou me estender criticando a linguagem vulgar usada no livro, nem a narrativa em primeira pessoa, do ponto de vista da personagem mais fraca da história. A parte de ser mal escrito é apenas mais um detalhe nesse mar de defeitos que Cinqüenta Tons de Cinza possui.

No final do livro meus sentimentos se modificaram; eu não tinha mais raiva dessa garota inexperiente que não soube dizer não a um cara só porque ele era bonito e intrigante.  Eu tive pena. Pena dela, que já tinha se apaixonado e estava perdida, sendo oficialmente uma daquelas mulheres que sofrem abuso e pensam que a culpa é delas. E pena também de todas as pessoas que estão lendo essa história mundo a fora e sonhando com uma relação desse tipo.

Fico até encabulada de ser mais uma a dar destaque para essa história, que realmente não merece esse ibope todo. Acredito que fazer uma resenha sobre esse livro é até uma afronta a inteligência dos leitores do blog, mas queria deixar registrada a minha opinião com todas as letras e encerrar esse assunto. E se alguém vier me falar sobre ele novamente, vou só informar que despejei minha opinião toda por aqui.

Minha curiosidade agora se resume em como a autora consegue terminar esse livro. Acho muito difícil ela modificar as personagens a ponto de salvá-las, especialmente Grey. Mas não me atrevo a ler o resto, vou procurar um resumo para saber.

Minha dica é: não leiam. Não serve nem para quem curte BDSM, nem para quem não gosta. Talvez a única coisa que se aproveite sejam as dicas de música presentes no livro. De resto fujam. Fujam de Christian Grey e de toda essa loucura. Fujam e fiquem bem longe. Como disse uma livreira “A vida é muito curta para perder tempo com livros ruins”.
SkoobFórum

3 comentários:

  1. Bravo! Só per ter lido o livro inteiro para fazer a review já é huge. Eu mesma não aguentei até a pg 200.
    Tu falou tudo, guria. E até hoje o que me espanta são essas mulheres desesperadas por um Christian Grey. Sério, cara? Tu quer um manipulador, controlador, machista e paranóico controlando até quantos gramas de comida você come? Really?

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  2. E a autora ainda publicou mais 2 livros disso ai. Fico me perguntando com o que ela encheu esses livros. No nosso tempo, smut era muito mais divertido.

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  3. minha tia ama.

    nem sei oq dizer. concordo com tudo, especialmente isso:

    "No final do livro meus sentimentos se modificaram; eu não tinha mais raiva dessa garota inexperiente que não soube dizer não a um cara só porque ele era bonito e intrigante. Eu tive pena. Pena dela, que já tinha se apaixonado e estava perdida, sendo oficialmente uma daquelas mulheres que sofrem abuso e pensam que a culpa é delas. E pena também de todas as pessoas que estão lendo essa história mundo a fora e sonhando com uma relação desse tipo."


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