Quando Anastasia Steele entrevista o jovem empresário Christian
Grey, descobre nele um homem atraente, brilhante e profundamente dominador.
Ingênua e inocente, Ana se surpreende ao perceber que, a despeito da enigmática
reserva de Grey, está desesperadamente atraída por ele. Incapaz de resistir à
beleza discreta, à timidez e ao espírito independente de Ana, Grey admite que
também a deseja, mas em seus próprios termos.
Quando as pessoas descobrem que gosto de ler, imaginam que estou
por dentro das novidades e dos Best Sellers do momento e,
sendo assim, sempre vem comentar comigo sobre esse livro em particular com
grande empolgação. Eu ficava olhando para a pessoa surpresa, pois já sabia que
o livro não tratava de um assunto de meu interesse, mas parece que o título vem
chamando muito a atenção das pessoas. Então resolvi ler porque precisava
conhecer para ter uma opinião formada sobre ele. Não acho justo criticar uma
obra só pela descrição e pela indicação de terceiros - mesmo que estes conheçam
meu gosto e opinião.
Levando em consideração que já tinha uma impressão negativa desse
livro quando comecei a leitura, foi um milagre ter conseguido chegar ao final.
Precisei de muita força de vontade para continuar. E não vou negar que cada
segundo foi torturante. Mas ao contrário do que vocês podem pensar, não estou
me referindo a pratica sexual ser pesada demais. Pelo contrário, em se tratando
de BDSM, esperava
encontrar coisas muito mais intensas no livro, que na verdade não passou de
uma fanfic com
cenas de sexo até bem comuns a esse mundo.
Das várias coisas que me irritam nesse livro, uma delas é o barulho
que as pessoas fazem em torno dessa história. Pensar que foi lançada
primeiramente como uma fanfic de Twilight, acabou sendo
publicada, virou Best Seller e fenômeno mundial, quando ela no
máximo podia chegar ao nível de romances de banca, me faz pensar que o mundo
está realmente perdido.
Não pensem que estou julgando o livro por ter sido escrito
como fanfic. Para ser sincera, conheço romances de banca com
histórias bem melhores do que essa e conheço fanfic's e
autoras maravilhosas que não chegam a fazer sucesso. O fato é que a história
não merece realmente toda essa fama.
Para falar das personagens, vamos começar com Anastasia Steele
(Ana), a protagonista. Vocês conseguem pensar em uma pessoa na casa dos vinte
anos, universitária, que seja contra tecnologia e que, além de virgem, é completamente
desinformada quanto a sexo? Garanto que não, pois essa personagem não só não é
interessante, como não é crível.
Ela tem pensamentos incrivelmente infantis, desacredita de coisas
banais e bobas, fica corada com facilidade, é confusa e inocente
demais. E tem ainda o detalhe dela falar o tempo todo de seu inconsciente e de
sua “Deusa interior”, que provavelmente deve ser uma piadinha interna do fandom original, pois ela é lançada sem
maiores explicações sobre o que isso deveria ser ou significar para as pessoas
do mundo normal.
E então, temos Christian Grey. Ele é rico, bonito, misterioso, com
um passado sombrio e tem fetiches assustadores para alguém tão inexperiente. Mas também é maníaco por
controle, manipulador, ciumento, machista, possessivo, abusivo, perseguidor e
por algum motivo, muitas pessoas ao redor do mundo parecem ignorar tudo
isso e achar que ele é o príncipe encantado que toda mulher procura.
Acho que, na tentativa de construir um personagem que fosse
atormentado e polêmico, mas ao mesmo tempo encantador o suficiente para que
valesse a pena lutar por ele, a autora só conseguiu ao invés disso, criar um
monstro.
Quero deixar claro que não tenho
nada contra a prática BDSM. Não só respeito como defendo que, cada um tem o
direito de fazer o que melhor lhe convier, inclusive na vida sexual, desde que
ninguém saia prejudicado. Pelo que sei, a prática tem regras rígidas sobre
segurança e consentimento e o principal é que uma das partes deve querer ser dominante a outra deve querer ser submissa. O grande problema é
que, no caso dessa história em particular, isso não
acontece. Podemos perceber dominação e
submissão nas personalidades. Vemos também o desejo de dominação, mas e quanto
ao desejo em ser submissa? Nunca.
E nisso chegamos ao que mais me incomoda no livro, os valores. O
livro é machista em um nível sem cabimento. São exemplos e mais exemplos, onde
Ana se policia sobre o que vai fazer, o que vai dizer, com quem vai sair, se preocupando
sempre com a reação dele, com a mudança de humor dele e que isso pode
significar punição para ela. E não me refiro ao fato de ser dominação homem sobre mulher. Se fosse o oposto, eu também não gostaria.
Desde o início se percebe claramente um caso de abuso. Ana é uma
pessoa psicologicamente frágil, com baixa auto-estima e inexperiente. Christian
acaba por perceber isso e se aproxima de dela exatamente para se aproveitar
dessas características. O homem é manipulador, oportunista e
possessivo e Ana, ao se apaixonar por ele, cede. Não por achar excitante a
experiência, mas por achar que vai perdê-lo. Ele deixa claro desde o início que
essa é a única maneira de ficarem juntos e Ana acaba por se submeter à
condição.
Para citar um exemplo, em determinado momento, Christian fica
sabendo de uma viagem que Ana quer fazer e reage demonstrando ciúmes e chega a
castigá-la. Depois, Ana se afasta da cidade para pensar melhor e o Sr. Grey, sendo absurdamente
perseguidor, vai atrás dela alegando que sentiu saudades. No livro, isso
deveria significar que ele não consegue ficar longe dela, mas na verdade só mostra
que o espaço que ela pediu não foi respeitado.
Além disso, a submissão não
termina na cama. Ela não pode revirar os olhos, não pode morder o lábio, o que
ela geralmente faz sem perceber. Acredito que a intenção fosse mostrar que ele fica completamente
louco por ela. Mas essa reação exagerada dele só consegue demonstrar é que ele
é um tarado totalmente descontrolado. Isso não é bonito, nem é sexy e muito
menos romântico.
Tudo retratado nesse livro só reforça uma relação nada saudável. Um
homem instável e uma mulher que se submete aos caprichos dele pensando que pode
mudá-lo na base da insistência. Além do mais, ele não admite que ela o toque ou
que saiba detalhes sobre o passado dele. Em várias passagens a própria
personagem deixa claro que só faz a vontade dele, mas que não gosta da prática.
Nem vou me estender criticando a linguagem vulgar usada no livro,
nem a narrativa em primeira pessoa, do ponto de vista da personagem mais fraca
da história. A parte de ser mal escrito é apenas mais um detalhe nesse mar de defeitos
que Cinqüenta Tons de Cinza possui.
No final do livro meus sentimentos se modificaram; eu não tinha
mais raiva dessa garota inexperiente que não soube dizer não a um cara só
porque ele era bonito e intrigante. Eu tive pena. Pena dela, que já
tinha se apaixonado e estava perdida, sendo oficialmente uma daquelas mulheres
que sofrem abuso e pensam que a culpa é delas. E pena também de todas as
pessoas que estão lendo essa história mundo a fora e sonhando com uma relação
desse tipo.
Fico até encabulada de ser mais uma a dar destaque para essa
história, que realmente não merece esse ibope todo. Acredito que fazer uma
resenha sobre esse livro é até uma afronta a inteligência dos leitores do blog,
mas queria deixar registrada a minha opinião com todas as letras e encerrar
esse assunto. E se alguém vier me falar sobre ele novamente, vou só informar
que despejei minha opinião toda por aqui.
Minha curiosidade agora se resume em como a autora consegue
terminar esse livro. Acho muito difícil ela modificar as personagens a ponto de
salvá-las, especialmente Grey. Mas não me atrevo a ler o resto, vou procurar um
resumo para saber.
Minha dica é: não leiam. Não serve nem para quem curte BDSM, nem
para quem não gosta. Talvez a única coisa que se aproveite sejam as dicas de música presentes no livro. De resto fujam. Fujam
de Christian Grey e de toda essa loucura. Fujam e fiquem bem longe. Como
disse uma livreira “A vida é muito curta para perder tempo com livros ruins”.
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Bravo! Só per ter lido o livro inteiro para fazer a review já é huge. Eu mesma não aguentei até a pg 200.
ResponderExcluirTu falou tudo, guria. E até hoje o que me espanta são essas mulheres desesperadas por um Christian Grey. Sério, cara? Tu quer um manipulador, controlador, machista e paranóico controlando até quantos gramas de comida você come? Really?
E a autora ainda publicou mais 2 livros disso ai. Fico me perguntando com o que ela encheu esses livros. No nosso tempo, smut era muito mais divertido.
ResponderExcluirminha tia ama.
ResponderExcluirnem sei oq dizer. concordo com tudo, especialmente isso:
"No final do livro meus sentimentos se modificaram; eu não tinha mais raiva dessa garota inexperiente que não soube dizer não a um cara só porque ele era bonito e intrigante. Eu tive pena. Pena dela, que já tinha se apaixonado e estava perdida, sendo oficialmente uma daquelas mulheres que sofrem abuso e pensam que a culpa é delas. E pena também de todas as pessoas que estão lendo essa história mundo a fora e sonhando com uma relação desse tipo."