"Foi há quarenta anos, agora ele lembra muito bem. Quando os tempos ficaram difíceis e os pais decidiram que o quarto do alto da escada, que antes era dele passaria a receber hóspedes. Ele só tinha sete anos. Um dos inquilinos foi o minerador de opala. O homem que certa noite roubou o carro da família e, ali dentro, parado num caminho deserto, cometeu suicídio. O homem cujo ato desesperado despertou forças que jamais deveriam ter sido perturbadas. Forças que não são deste mundo."
Neil Gaiman. Neil Gaiman e essa sua incrível criatividade para criar histórias fantásticas (literalmente) e únicas. Ás vezes até um pouco estranhas ou bizarras, mas sempre ótimas.
A história em questão - segundo a própria editora Intrínseca, que publica o livro no Brasil - é descrita como uma fábula para adultos sobre a infância onde, um homem volta ao lugar onde viveu a infância e relembra eventos que ele havia esquecido, eventos nada triviais. A história é curta e completamente devorável - o que é uma característica nas histórias desse autor, essa aura de magia que não conseguimos desvendar e nos vemos completamente envoltos por ela. - É muito difícil largar o livro pois queremos saber mais, já que a trama nunca é previsível.
Como já disse, o Romance é direcionado a adultos, mas a história é situada na infância do menino e muitas vezes ficamos em dúvida se os acontecimentos são verdadeiros ou fruto da imaginação fértil dele. E talvez nem ele mesmo saiba. É interessante perceber que, embora se trate de lembranças de um menino aos sete anos, às vezes ele tem atitudes que o faz parecer muito adulto para a idade. Isso faz com que em várias partes, nos identifiquemos com suas reflexões e isso também adiciona um tom nostálgico à história.
Algumas citações do livro:
Algumas citações do livro:
"As crianças, seguem caminhos alternativos e secretos, ao passo que os adultos vão por ruas e caminhos predeterminados."
"Ninguém se parece por fora como é de fato por dentro. Nem você. Nem eu. As pessoas são muito mais complicadas que isso. É assim com todo mundo."
"Os adultos também não se parecem como adultos por dentro. Por fora, são grandes e desatenciosos e sempre sabem o que estão fazendo. Por dentro, eles se parecem com o que sempre foram. Com o que eram quando tinham a sua idade. A verdade é que não existem adultos. Nenhum, no mundo inteirinho."
As características como comportamento, gostos e leituras do personagem principal tem muito em comum com o próprio autor, o que nos leva a crer que o autor utilizou a própria infância na construção da fábula. Esse fato fica ainda mais evidente ao ler os agradecimentos do livro.
Estou ciente de que não é uma leitura que agradaria a todos, mas se é fã do autor, o livro segue o mesmo estilo de sempre e que, particularmente, sempre agrada. Se você não conhece o autor a dica é: se você não é daqueles que tem certo preconceito com histórias de fantasia, e do contrário, adoram um mundo inventado e criativo, vá em frente. Uma leitura rápida, mágica e com gosto de nostalgia.
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