A Vida Sexual da Mulher Feia - Claudia Tajes

"Eu sou aquela que, quando cruza a sala a caminho da xerox ou levanta para pegar café na garrafa térmica, ouve dois colegas do escritório falando em voz supostamente baixa: entre a Ju e a morte, quem você escolheria?"

Investi na leitura porque acreditei que seria engraçado e realmente consegui dar algumas risadas em vários momentos, mas o livro acabou se revelando mais deprimente do que alegre. 

Mais do que uma mulher feia, Ju - a mulher que conta a história - é em vários aspectos uma perdedora. Se as menos providas de beleza geralmente compensam em inteligência, Ju não consegue compensar em nada. Além de não ser bonita, não é inteligente, não tem bom gosto para se vestir, não tem um pingo de amor próprio ou alto estima, não se preocupou em ter formação alguma e também não é competente em nada. Nem a própria família faz questão de sua presença e ela não consegue parar em emprego nenhum, sem contar que só se envolve com homens que são no mínimo peculiares.

É notável que a narrativa na primeira pessoa é inteligente, mas a personagem não é. Isso acaba ficando um tanto confuso e deixando a história um tanto sem sentido, nos fazendo perguntar "Como uma pessoa pode descrever tão bem a vida e fazer essas avaliações, mas fez escolhas tão ruins e não faz nada para mudar". 

O livro não se decide se é de auto-ajuda, crônica, contos ou que. Várias vezes são expostas reflexões tentando passar ideias como "a mulher feia não é apenas uma deformação da estética, é um estado de espírito" ou que mulher bonitas também tem azar no amor, quando a história inteira mostra o contrário. 

No fim, os relatos acabam deixando de ser engraçados para ser forçadamente deprimentes, numa sequência de fracassos e mais fracassos, tanto amorosos quanto profissionais da personagem que nos deixam, ao mesmo tempo com muito dó da coitada e vontade de mandá-la se acordar para a vida.

Apesar de ter gostado de ler uma história situada no meu estado, em que várias cidades eu conheço e pude me situar melhor; senti falta de mais personagens engraçadas ou situações em que ela desse o troco ou se desse bem, só para variar. E pode parecer clichê, mas eu acredito que a falta de sorte no amor tenha realmente mais a ver com a maneira como a mulher se vê do que e se impõe diante do mundo, do que com sua beleza ou falta dela. Acho o livro poderia ter retrato uma mulher feia de bem consigo mesma, com personalidade. Isto sim ilustraria melhor a mensagem que a autora tentou passar.
SkoobFórum


Nenhum comentário:

Postar um comentário